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Novo Estudo Relaciona Desenho Urbano às Mortes de Motociclistas em 337 Cidades da América Latina

Road Mortality Latam

PHILADELPHIA, PA, October 21, 2025

Tempo de leitura: 5 min

Um novo estudo do Projeto SALURBAL (Saúde Urbana na América Latina)  investiga as mortes relacionadas a motocicletas em sete países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México e Panamá. Entre as 337 cidades incluídas no estudo, a taxa de mortalidade foi superior a 4 por 100.000 habitantes. O artigo, liderado por Ignacio Javier Yannone, da Universidad Nacional de Lanús, na Argentina, destaca como o ambiente urbano influencia esses acidentes fatais e o que urbanistas e tomadores de decisão podem fazer a respeito.

  • Os motociclistas são o grupo de usuários das vias que mais cresce na América Latina e representam um quarto de todas as mortes por colisões de trânsito.
  • Nas cidades estudadas, a taxa de mortalidade entre motociclistas foi superior a 4 por 100.000 habitantes, sendo mais elevada entre os homens, com a maior taxa  registrada na faixa etária de 20 a 24 anos.
  • Cidades com populações mais densas, ruas mais conectadas e melhores condições sociais—como maiores níveis de educação e acesso a sistemas de esgoto—tendem a ter menos mortes entre motociclistas.
  • Cidades colombianas e brasileiras tiveram as maiores taxas de mortalidade de motociclistas por 100.000 habitantes mesmo considerando que ambos os países aplicam leis obrigatórias de uso de capacete.

A posse de motocicletas continua a aumentar de forma expressiva em toda a América Latina, crescendo mais de 50%, de 3,7 milhões de veículos em 2012 para 5,6 milhões em 2023, tornando-se o grupo de usuários das vias que mais cresce na região. Este tipo de veículo oferece maior mobilidade e acesso a oportunidades de emprego, especialmente em cidades com opções limitadas de transporte público, e representa uma alternativa rápida e eficiente ao congestionamento de trânsito. Porém, junto com esses benefícios, as mortes relacionadas a motocicletas aumentaram e atualmente representam um quarto de todas as mortes por colisões de trânsito na América Latina.

Um estudo recente liderado pelo SALURBAL investigou as mortes no trânsito relacionadas a motocicletas em 337 cidades de sete países: 33 cidades na Argentina, 152 no Brasil, 21 no Chile, 35 na Colômbia, 1 na Costa Rica, 92 no México e 3 no Panamá. Os autores analisaram associações entre as taxas de mortalidade de 2010 a 2019 e as características das cidades, incluindo paisagem urbana, desenho das ruas, transporte e densidade populacional.

A pesquisa utilizou dados da iniciativa multinacional SALURBAL e contou com autores da Universidad Nacional de Lanús, na Argentina, da Universidad de los Andes, na Colômbia, do Instituto Nacional de Salud Pública, no México, da Drexel University, da University of Washington e da University of California, Berkeley, nos Estados Unidos.

Em as cidades estudadas, a taxa de mortalidade para motociclistas foi superior a 4 por 100.000 habitantes. Esse problema afeta desproporcionalmente os homens, com a maior taxa observada na faixa etária de 20 a 24 anos. Colômbia e Brasil apresentam taxas de mortalidade superiores tanto à média regional das Américas (3,6 por 100.000 em 2016) quanto à média global de 5,1 por 100.000.

O estudo constatou que cidades com maior densidade populacional, maior densidade de cruzamentos e melhores condições sociais tinham taxas significativamente menores de mortalidade de motociclistas. Os autores avaliaram os níveis de ambiente social por meio de uma combinação de fatores, incluindo níveis de educação, domicílios conectados a redes de esgoto e água, e superlotação.

Como podemos criar cidades mais seguras?
 

Road mortality buenos airesEntão, por que esses resultados são importantes? Por um lado, cidades com mais cruzamentos e maior número de habitantes costumam ter trânsito mais lento, devido às paradas mais frequentes e ao congestionamento geral. Compreender essas diferenças locais é fundamental, pois permite que as cidades identifiquem exatamente onde concentrar esforços e recursos para prevenir mortes de motociclistas.

Em áreas com transporte público limitado, os motociclistas frequentemente percorrem distâncias maiores em vias com velocidades mais altas e tráfego mais intenso. Essas áreas também tendem a ter redes de ruas menos conectadas, fatores que estão ligados a um aumento nas mortes no trânsito. Juntamente com pedestres e ciclistas, os motociclistas estão entre os usuários de vias mais vulneráveis, enfrentando o maior risco de colisão por quilômetro percorrido. 

 

O estudo sugere que mudanças em nível de cidade, orientadas por esses achados, podem atuar em conjunto com outras soluções estabelecidas, como ações de educação e fiscalização. Essa abordagem combinada pode contribuir para a criação de um transporte urbano mais seguro para motociclistas em toda a região. Os resultados indicam um possível benefício para a saúde pública de estratégias de desenvolvimento urbano compacto, conectado e socialmente coeso—tradicionalmente promovidas para incentivar a mobilidade ativa e o uso do transporte público—que também podem contribuir para reduzir mortes relacionadas a motocicletas. 

Esforços para reduzir o risco e prevenir acidentes podem se beneficiar de uma compreensão aprimorada desses padrões emergentes de mobilidade e dos riscos à saúde pública associados a eles. As evidências apresentadas neste artigo sobre o risco de acidentes fatais envolvendo motociclistas e as formas como os ambientes urbanos e sociais podem influenciar esse risco destacam possíveis estratégias complementares que podem ser empregadas. Melhorar a conexão das ruas, diminuindo assim a velocidade do tráfego de veículos motorizados, criar ambientes mais compactos, onde o transporte público de qualidade seja eficiente, e atender às necessidades básicas de infraestrutura são formas promissoras de reduzir as mortes de motociclistas e, provavelmente, todas as mortes no trânsito.

Algumas cidades implementaram limites de velocidade de 20 MPH (30 km/h) em toda a cidade, o que pode reduzir mortes no trânsito¹. Uma estratégia com sucesso documentado é reduzir as velocidades por meio do próprio desenho urbano, implementando medidas de acalmamento de tráfego, como as sugeridas pela Global Designing Cities Initiative. 

"Esta pesquisa fornece evidências essenciais para apoiar a gestão pública e orientar intervenções direcionadas no nível local: melhorar a conectividade viária, criar ambientes urbanos mais seguros e coesos, e reduzir as desigualdades em infraestrutura e serviços", afirma o autor principal, Dr. Ignacio Yannone do Instituto de Salud Colectiva, Universidad Nacional de Lanús, Argentina. "Esperamos que essas informações subsidiem a tomada de decisão dos governos locais e contribuam para melhorar a segurança viária e proteger a vida de nossos motociclistas, a maioria dos quais são jovens e têm toda a vida pela frente".

A investigação serve como um lembrete da importância de priorizar maior densidade populacional, melhorias no ambiente social e sistemas de transporte público de qualidade, de modo a reduzir, desde o início, a necessidade do uso de transporte motorizado individual. Os achados sugerem que as mortes de motociclistas foram menores em cidades com transporte público eficiente, como o Bus Rapid Transit (BRT) ou trens urbanos (por exemplo, metrô). Outros estudos apontam que, em cidades da América Latina, muitas famílias adquirem motocicletas para diminuir o tempo de deslocamento, mas esse efeito pode ser reduzido com o acesso a transporte rápido e de qualidade.

  

Road mortality inside buenos aires 2

 

Onde os dados de registro de motocicletas estavam disponíveis, os autores observaram que maiores números de registros per capita estavam associados a um aumento significativo das mortes de motociclistas. "Ao reduzir a necessidade de possuir ou usar uma motocicleta ou, posteriormente, um veículo de passeio por meio de um sistema de transporte rápido e eficiente, as cidades podem reduzir e prevenir mortes de motociclistas", afirma Alex Quistberg, PhD, do Urban Health Collaborative (Colaboração em Saúde Urbana) da Drexel University, EUA.

 

Há também diferenças importantes nas taxas de mortes de motociclistas por idade e sexo. Homens jovens adultos (20-35 anos) estão particularmente em risco. As taxas de mortalidade entre homens jovens foram mais de sete vezes superiores às das mulheres e de outros grupos etários. Sobre isso, Quistberg comenta: "Algumas cidades e países criaram infraestrutura separada para motociclistas, com resultados variados. Com base em nosso trabalho e em pesquisas anteriores, acreditamos que provavelmente é mais importante para as cidades reduzir a velocidade dos veículos motorizados do que criar infraestrutura separada dedicada a motociclistas".

 

Embora o estudo não tenha abordado diretamente as leis ou o uso de capacetes para motociclistas, todos os países incluídos na pesquisa possuem alguma forma de legislação sobre capacetes; esses requisitos variam em cobertura e fiscalização, tornando desafiadoras as comparações entre cidades e países.

 

À medida que o uso de motocicletas continua a aumentar, incluindo um pico durante e após a pandemia de COVID-19, as cidades enfrentam desafios reais com o crescimento desses modos de transporte, particularmente à medida que se misturam com veículos de passeio e outros veículos motorizados mais pesados ou usam infraestrutura destinada a ciclistas e pedestres. Esse crescimento recente enfatiza a necessidade de as cidades abordarem a segurança dos motociclistas, bem como os modos emergentes de micromobilidade relacionados, como patinetes elétricos, bicicletas elétricas e motocicletas elétricas.
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 1. Outros estudos da SALURBAL avaliaram o impacto das novas normas de trânsito, especificamente os limites de velocidade, nos acidentes de trânsito na Cidade do México. Para saber mais, consulte:: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7614109/

Este trabalho contou com o apoio da iniciativa Our Planet, Our Health da Wellcome Trust (205177/Z/16/Z).

Créditos das fotos: Alex Quistberg, PhD, Daniel Rodríguez, PhD.

Contato: Carolina Rendón, Especialista em Comunicação - cr3283@drexel.edu