Mortes Relacionadas ao Calor na América Latina Podem Dobrar até 2050
PHILADELPHIA, PA,
October 6, 2025
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Segundo um novo estudo do Projeto Saúde Urbana na América Latina (SALURBAL) publicado na revista Environment International, as mortes relacionadas ao calor na América Latina podem dobrar até 2050. As projeções analisaram os impactos da temperatura e do envelhecimento da população na mortalidade futura em 326 cidades de nove países latino-americanos: Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, México, Panamá e Peru.
A pesquisa comparou dois possíveis cenários climáticos: um com políticas rigorosas para reduzir os gases de efeito estufa e outro com altas emissões e pouca ação de mitigação. O estudo constatou que, mesmo com esforços significativos para transitar para um cenário de baixas emissões de gases de efeito estufa, espera-se que as mortes relacionadas ao calor na região dobrem em meados do século em comparação com a linha de base de 2002–2015. Esse aumento deve-se principalmente ao envelhecimento da população, que é mais vulnerável ao calor.
O estudo, "Mortalidade futura relacionada à temperatura em cidades da América Latina sob cenários de mudança climática e populacionais", foi co-liderado por Maryia Bakhtsiyarava, PhD, e Josiah L. Kephart, PhD. Ambos são professores assistentes no Urban Health Collaborative da Universidade Drexel e integrantes do SALURBAL. A pesquisa também contou com coautores da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, da Universidade da Califórnia em Berkeley, da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de São Paulo — estas duas últimas no Brasil.
- As mortes relacionadas ao calor na América Latina provavelmente dobrarão até 2050, mesmo que as temperaturas globais subam a um ritmo moderado. O estudo também mostra que, sob um cenário de aquecimento global mais extremo, a porcentagem de todas as mortes relacionadas ao calor extremo poderia aumentar de 0,87% para 2,06%.
- Mudanças demográficas importantes, impulsionadas pelo envelhecimento populacional, aumentarão os impactos do calor. Embora os especialistas esperem que os esforços de saúde pública continuem reduzindo mortes tanto pelo frio quanto pelo calor, essas melhorias podem não ser suficientes para conter os riscos crescentes de um clima mais quente e grandes mudanças demográficas: uma população maior e mais idosa será mais vulnerável a temperaturas extremas.

Fig. 1. Temperatura média diária das cidades no período de referência e mudanças projetadas na temperatura média diária do período de referência até 2045–2054 sob um cenário de aquecimento moderado (meio) e aumento elevado da temperatura (direita).
De acordo com o estudo, quase todas as cidades analisadas experimentarão temperaturas médias mais altas nos cenários climáticos futuros. Mesmo com um cenário de aquecimento moderado, as mortes relacionadas ao calor na região estão projetadas para dobrar até 2050. Esse aumento alarmante será significativamente impulsionado por uma mudança demográfica que, por si só, poderia aumentar a taxa de mortalidade relacionada ao calor em 176%.
“Esta análise enfatiza que o calor urbano é uma ameaça crescente à saúde na América Latina, originada por dois fatores principais: as mudanças climáticas provenientes das atividades humanas e uma população que está envelhecendo rapidamente, deixando mais adultos mais velhos especialmente vulneráveis ao calor”, diz Josiah L. Kephart, PhD, coautor principal do estudo e professor assistente no Urban Health Collaborative.
O aumento das temperaturas impactará diretamente a saúde. Embora algumas cidades, como Buenos Aires, possam registrar uma redução nas mortes relacionadas ao frio, isso será amplamente compensado pelo aumento acentuado nas mortes causadas pelo calor extremo. Por exemplo, projeta-se que o Rio de Janeiro experimente calor extremo além de qualquer registrado anteriormente, elevando substancialmente as mortes por calor. Em 152 cidades brasileiras, estima-se que as mortes relacionadas ao calor representem 1,82% de todas as mortes sob o cenário de aquecimento moderado e 2,43% sob o cenário de altas emissões em meados do século.

“O aumento das temperaturas, combinado com o rápido envelhecimento populacional, amplificará significativamente os riscos à saúde, levando a mais mortes evitáveis. Antecipar essas tendências permitiria que os governos incorporem estratégias de adaptação direcionadas ao planejamento urbano e aos sistemas de saúde, com atenção especial às necessidades dos idosos”, diz Maryia Bakhtsiyarava, coautora principal do estudo e professora assistente no Urban Health Collaborative da Drexel.
Para formuladores de políticas e profissionais de saúde, isso significa investir em planos de ação para o calor, infraestrutura de resfriamento e vigilância sanitária, adaptando as respostas aos diferentes climas e condições socioeconômicas entre as cidades.
“Para as cidades, este estudo revela a magnitude do desafio pela frente. Ele incentiva autoridades e tomadores de decisão a concentrarem esforços nas populações mais suscetíveis aos efeitos do calor, como idosos e indivíduos com outras doenças”, diz Daniel Rodríguez, autor sênior do estudo e diretor do Institute of Transportation Studies da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Embora as melhorias gerais na saúde possam reduzir as taxas gerais de mortalidade, esses ganhos serão compensados pela maior exposição ao calor e pelo aumento da população idosa. Isso ressalta a necessidade urgente de estratégias direcionadas que protejam a saúde pública, especialmente da população mais velha, por meio do planejamento urbano e de políticas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
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Este estudo recebeu apoio financeiro da Wellcome Trust (216029/Z/19/Z, 205177/Z/16/Z, 227810/Z/23/Z).
Contato: Carolina Rendón, Especialista em comunicações - cr3283@drexel.edu
Contact: Carolina Rendón, Communications Specialist - cr3283@drexel.edu